Carol Massa — uma designer Luso-Brasileira — compartilha suas lições sobre design de serviços nos EUA

Carol Massa
Lusofonia
Published in
7 min readMay 29, 2020

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Um Artigo de Cada Vez

Como dissemos no artigo que apresentava o projeto, Lusofonia é uma porta aberta a todos os Service Designers que falam em língua Portuguesa e que vivem fora do seu país de origem. Mas também, é uma porta que se abre a nós próprios, oferecendo-nos a oportunidade de os conhecer e de ficar a saber sobre o seu percurso nesta área. Efetivamente, desafiámos cada uma das pessoas que entrevistámos a partilhar a sua história convosco, um artigo de cada vez.

Hoje temos o gosto de partilhar a história da Carol Massa.

Carol Massa

Oi, malta ! Meu nome é Carol Massa, sou luso-brasileira e sou designer de serviços em Atlanta, GA, EUA. Atualmente, trabalho em uma empresa de consultoria de design chamada Harmonic Design, onde tenho tido a oportunidade de explorar o trabalho de design de serviços por completo! Gostaria de começar compartilhando com você o que aprendi até agora …

O Que Aprendi Como Designer de Serviços Nos EUA

Ainda há muito que não sei sobre negócios em geral — e, honestamente, é impossível saber tudo — mas aqui estão alguns padrões que notei nos EUA em relação ao design de serviços em organizações:

O uso da linguagem do design não é para todos:

  • Entenda que pessoas que estão fora da comunidade de design não conhecem ou têm pouca ou nenhuma exposição sobre nosso processo. Geralmente caímos na armadilha de usar termos como service blueprint, service storming e lógica dominante de serviços. Os empresários não entendem o que isso representa, tudo o que eles querem saber é como essas ferramentas/métodos podem ajudá-los e a empresa a alcançar seus objetivos. Em vez de dizer “vamos fazer uma sessão de service blueprinting”, você pode dizer algo como: “Vamos organizar uma sessão multifuncional para debater sobre melhorias em relação ao nosso relacionamento com nossos clientes/consumidores/usuários a fim de integrar com o backstage da nossa organização”. Tendo dito isto, segue o meu segundo ponto…
Equipe multifuncional construindo uma experiência de integração. (Harmonic Design Inc.)

Cada organização têm o seu próprio vocabulário:

  • Ter a habilidade de dominar diferentes vocabulários de negócios é algo que somente conseguimos através da experiência. Para facilitar esse ponto, tenha em mente que cada organização possui um conjunto específico de valores, estrutura e normas. Ao trabalhar com essas organizações (como consultor/tempo integral/contratado), descubra o que impulsiona os negócios, o que eles mais valorizam, quem eles querem ser daqui a cinco, dez anos. Esteja sempre aberto a ouvir e faça perguntas inteligentes, você estará falando a língua deles em pouco tempo!
Conversas informais podem ajudar você a entender o que as pessoas estão pensando/sentindo.

A maioria das organizações não está pronta para executar suas recomendações:

  • Lembre-se de que o trabalho do design é baseado no pensamento criativo, isso significa que sempre haverá um gap entre o que você acha que eles deveriam fazer (conceitos) e o que eles realmente podem fazer (implementação). Para tornar seu trabalho mais significativo, avalie a estrutura organizacional da empresa. Descubra se eles têm equipes de design, se existem plataformas que podem oferecer suporte a possíveis alterações, quais políticas eles têm e que possam vir atrapalhar possíveis soluções, quais métricas eles usam para medir o sucesso de uma iniciativa. Tudo isso irá ajudar no seu argumento para defender suas soluções/recomendações.
O uso de informações existentes ajudam a impulsionar novas soluções de design

Promova uma abordagem do design que é adaptável e inclusiva:

  • Nós designers somos muito protetores do nosso trabalho. Eu inclusive. Mas quando você trabalha com organizações, sua abordagem deve ser pautada em relação ao que funciona para eles em seu contexto. Não estou sugerindo que você deixe de lado como você cria/projeta soluções, mas você deve sempre procurar maneiras de incluir seu cliente/gerente/colegas de trabalho em seu processo. A principal razão para isso é que eles podem ser especialistas no tópico em questão, podem ter uma perspectiva diferente de como as coisas funcionam e devam funcionar e podem fornecer um valor imensurável ao seu design. O trabalho de design de serviços somente é possível através de um conjunto de pessoas e você deve começar/continuar a construir o seu time de aliados o mais rápido possível!
Convide pessoas para uma sessão de feedback sobre seus protótipos. (Harmonic Design Inc.)

Mantenha-se atualizado sobre o que acontece no mundo do design de serviços

  • Acredito firmemente no poder do conhecimento da comunidade. Ao longo de minha carreira, encontrei pessoas inteligentes, atenciosas e que me ajudaram a chegar onde estou. Por esta razão, me inscrevi para fazer parte do capítulo da Service Design Network Atlanta. Dentro desta comunidade local/global de design de serviços, sou capaz de aprender todos os dias com pessoas incríveis, compartilhar meu conhecimento com outras pessoas que buscam algum tipo de orientação e onde fico sabendo sobre os desafios atuais da nossa prática. Na minha opinião, todos os designers e não designers deveriam se envolverem com suas comunidades locais/globais de design. Você irá encontrar um espaço seguro para aprender, conectar-se e eventualmente, ser um local onde você poderá encontrar sua próxima oportunidade.
Atlanta Service Jam 2019 (Jammers + Equipe organizadora)

O Que Você Precisa Saber Sobre Iniciar/Continuar Uma Carreira em SD Nos EUA?

Além do que foi dito acima sobre design de serviços no mercado dos EUA, acho importante observar que, se você deseja iniciar uma carreira aqui, precisará considerar algumas coisas:

  1. Linguagem de “business” e entonação verbal: inglês não será o seu idioma nativo, esteja preparado para passar por uma curva de aprendizado sobre como explicar as coisas em inglês, bem como a sua entonação verbal. Em português, usamos mais palavras para descrever o que queremos dizer e somos muito expressivos. Em inglês, aprendi a não “dar voltas” no discurso. Seja claro e objetivo. Além disso, lembre-se que sua expressão facial pode deixar espaço para interpretações e pode eventualmente causar desconforto.
  2. Conte sua história: Seja transparente sobre quem você é como designer e tire proveito disto! Compartilhe sua jornada e o que procura com as comunidades locais. No capítulo de Atlanta temos membros da Índia, Colômbia, Reino Unido, Peru, entre outros, e eles enriquecem a nossa comunidade!
  3. O design do serviço pode ter outro nome: Ao iniciar sua carreira nos EUA, você pode se deparar com títulos de cargo como: “experience strategist”, “digital experience manager”, “innovation manager” etc. Leia com atenção a descrição do cargo e entre em contato com a empresa para aprender sobre o que eles fazem. Ser proativo é uma vantagem, e você notará que eles fazem design de serviço, mas não usam a terminologia.
  4. Network, network, network: Uma das coisas mais importantes que aprendi aqui é que você precisa estar conectado! Participe de Meetups, adicione-se a grupos no LinkedIn, associe-se a comunidades ligadas ao design em geral, não há nada mais importante do que se conectar com as pessoas. A maioria dos designers que conheço, especialmente os não-nativos, conseguiram seus empregos através de sua própria network. Sei que não é fácil para algumas pessoas, mas se você deseja prosperar neste mercado, precisará mostrar-se receptivo, e disposto a demonstrar como suas habilidades podem ajudar a organização.

Minha Jornada no Mundo do Design

Curiosamente, minha jornada como designer de serviços passou por diferentes áreas de design, eu estava sempre disposta a ir para onde a vida iria me levar, literalmente. Comecei minha carreira em design de moda, que lida com um design que é tangível (roupas) e inspirador, depois mudei para um curso em design onde fui para o IADE em Lisboa, estudar. Lá aprendi sobre combinações de cores, formas e formatos. Depois trabalhei com comunicação, web design, branding e publicidade. Durante essa jornada inicial de design, morei em dois países diferentes (Brasil e Portugal) e conheci um conjunto diversificado de pessoas e culturas. Comecei a notar que sempre quando eu queria buscar novos desafios como designer, uma nova oportunidade surgia para mim e eu dizia sim! Diria que verdadeiramente saia “pipocando” por aí! Depois de alguns anos trabalhando, me deparei com uma nova oportunidade, desta vez nos EUA, onde aprendi sobre design estratégico. Em 2017, obtive meu mestrado (MFA) em Design Management no SCAD e passei a construir minha carreira no design estratégico.

Ultimamente, tenho trabalhado com organizações de médio e grande porte orientando equipes internas sobre o design de serviços, suas ferramentas e técnicas.

Trabalho com organizações usando o design como fio condutor para criar estratégias que atendem às necessidades das organizações e das pessoas.

Qual é a Próxima Etapa?

Como qualquer designer, meu cérebro nunca para de questionar. É por isso que sempre tento puxar pela minha cabeça para descobrir diferentes maneiras de aplicar o design de serviços. Recentemente, tenho explorado o ponto de vista sobre como organizações são entidades vivas (“living entities”) e isso pode alterar como você pratica design de serviços. Convido você a aprender mais sobre esse assunto assistindo à minha palestra sobre “The strategic role of service design in organizations” para a SDN Academy, link aqui.

Pensamentos Finais

Espero que este artigo tenha inspirado você de alguma forma e que ajude na sua jornada. Obrigado Service Design Network Portugal por esta oportunidade de compartilhar minha história com você e sua rede sobre meu trajeto pessoal e profissional!

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Carol, muito obrigado pelo teu contributo. Sabemos que a comunidade lusófona irá ler com grande entusiasmo este artigo, o primeiro de muitos da iniciativa Lusofonia. Continua o bom trabalho e até breve.

Se quiseres contactar a Carol, cá fica o seu LinkedIn, Medium e Twitter.

A equipa do Portugal Chapter, Service Design Network.

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Carol Massa
Lusofonia

Designer at heart. Always looking for ways to improve my practice. Designing for complex organization challenges. Design Advisor @NorthwellHealth